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A lama, o luto. A luta.

A Revista da Reputação, assim como Minas Gerais e toda a comunidade mineradora, está de luto por causa do rompimento de uma barragem da Mina Feijão, em Brumadinho, na tarde do dia 25 de janeiro de 2019. A Revista foi criada em decorrência do rompimento da barragem em Mariana, no dia 05 de novembro de 2015 e teve este assunto tratado em sua primeira capa, publicada em 23 de fevereiro de 2016.

Na época, eu criei a revista porque queria respostas para a pergunta “como algo daquela proporção teria acontecido?” Queria debater e compartilhar conhecimento para que situações como aquela, definida como a maior tragédia ambiental que tivemos no país, não se repetisse. Ninguém imaginava que algo parecido pudesse voltar a acontecer. Mas aconteceu pouco mais de três anos depois, relembrando a todos o pesadelo do mar de lama, metafórico e real.

Toda a nossa solidariedade a quem perdeu alguém nestas tragédias. Se perder alguém por causas naturais doi, perder alguém soterrado pela lama é, certamente, revoltante e nenhuma população deveria passar por isso, tampouco ter que passar por isso duas vezes. Nossa solidariedade também ao time de comunicação e crise da Vale que, em meio a dor de ter perdido colegas e amigos, precisa gerenciar uma crise dinâmica e complexa, em que a manutenção da licença social para operação da empresa depende, em parte, deles. Em um cenário que, não bastando a seriedade dos casos reais, ainda há uma infinidade de fakenews circulando, sobretudo, no mundo paralelo dos grupos de WhatsApp. É uma luta por sobrevivência.

A hora é de reflexão. De baixar a guarda e reinventar o modo como a mineração acontece no Brasil. A hora é de diálogo, não de propaganda. A hora é de encontrar os desaparecidos, ter empatia e muita humildade. A hora é de assumir responsabilidades e rever processos. Não é hora para falar em recuperação financeira, não é hora para falar para acionistas pela mídia. É hora de falar com as pessoas, de amparar as pessoas e de entender o que as pessoas percebem como sendo valor para a Vale. Qual a verdadeira percepção da sociedade em relação à Vale? Estes valores percebidos estão alinhados aos valores que a empresa aponta em seus planejamentos estratégicos?

O quanto ela vale para a sociedade difere da contabilidade financeira de seus ativos tangíveis. A Oscar Wilde é atribuída uma frase que diz “hoje em dia conhecemos o preço de tudo e o valor de nada”. Nas redes sociais pessoas dizem que a empresa não vale nada. O exagero faz parte do ativismo e vivemos tempos de polarização. Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno. A empresa é uma das maiores mineradoras do mundo, é responsável pela economia de muitas cidades onde opera. A empresa adotou uma série de medidas de prevenção de rompimentos de barragens após a tragédia da Samarco, em Mariana, mas as medidas preventivas não foram suficientes em Brumadinho. Esta é a verdade dos fatos. Então, é preciso que medidas mais enérgicas sejam tomadas. Ninguém suportaria mais um rompimento de barragem. Nem mesmo a Vale, maior produtora de minério de ferro, pelotas e níquel do mundo.

* Tatiana Maia Lins é fundadora da Makemake – A casa da Reputação no Brasil e editora da Revista da Reputação.