Brasil teve queda de reputação após a Copa de 2014
O desempenho fraco da seleção brasileira não interfere na reputação do país. O que pesa é a falta de percepção de segurança, tanto entre os moradores quanto para os estrangeiros.
Um dos legados prometidos para os países que sediam Jogos Olímpicos e Copas do Mundo é o ganho na imagem do país como um local bom para turismo e negócios. Mas apenas sediar um megaevento não é garantia de melhoria da reputação de um país. Matematicamente falando, a Copa que sediamos em 2014 (ainda) não trouxe resultados positivos para a nossa reputação, segundo o mais respeitado ranking de reputação de países.
Enquanto os países da América Latina tiveram um aumento médio de 3,1% em suas reputações no Country Rep Trak, divulgado pelo Reputation Institute em 2015, o Brasil retrocedeu 2,4% no ano após a Copa, ocupando o 26º lugar no ranking, atrás de países como Tailândia (21º), Polônia (23º) e República Tcheca (24º) e apenas uma posição na frente do Peru (27º). Em 2015, a reputação do Brasil estava quase tão ruim quanto a reputação da Grécia, que ocupava a 28ª posição no ranking em meio a uma crise econômica abissal.
Este ano, o Brasil conseguiu subir duas posições e está agora em 24º lugar, atrás de Peru e Costa Rica. Com 58,56 pontos, a reputação brasileira ainda é considerada “fraca”, o que deixa o país em uma situação de vulnerabilidade. O lado positivo é que estamos quase cruzando a linha entre reputação fraca e mediana, que é a partir de 59 pontos.
Essa pesquisa é feita online com consumidores dos países que formam o G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia), entre fevereiro e março. Ao total, mais de 48 mil respostas, levando em consideração os 55 países com maior PIB do mundo, são coletadas. A pesquisa avalia também a autoimagem de parte dos países analisados. Ou seja, como os moradores avaliam os seus países de origem.
Assim como externamente, internamente, a nossa reputação não é das melhores. No ranking que analisou a reputação que os moradores dão ao seu local de origem, o Brasil, em 2015, apareceu em 21º lugar, perdendo apenas para a África do Sul. Este ano, novamente fomos destaque entre os países com maiores diferenças de percepção entre os turistas e os moradores. Internamente, a nossa reputação é de apenas 47,5 pontos, uma diferença de 10,2 pontos em relação à percepção dos estrangeiros sobre nós.
Percepção de insegurança enfraquece a reputação brasileira
A reputação de um país é avaliada de acordo com itens como confiança, admiração, estima e respeito que as pessoas sentem em relação a ele. Também são consideradas as percepções que as pessoas têm sobre o desenvolvimento econômico, o apelo turístico e o ambiente governamental. No caso brasileiro, os aspectos que mais contribuem para uma percepção positiva são suas belezas e o fato de ser um país amigável e agradável. Ainda assim, o Brasil não figura entre os dez países que as pessoas mais gostariam de visitar na pesquisa de 2016. Por outro lado, o país com melhor reputação no mundo, no ano olímpico do Brasil, é a Suécia. Tido como símbolo de belas paisagens, de uma população amigável e de segurança.
Diante de tantos escândalos de corrupção e da crise econômica que bateu à nossa porta, eu já esperava que a reputação do Brasil não acompanhasse o crescimento da reputação de nossos vizinhos, apesar de termos sediado a Copa do Mundo em 2014 e da cobertura positiva que o evento recebeu no mundo. Isso porque, salvo os escândalos na Argentina e a crise da Venezuela, nossos vizinhos vêm tentando com sucesso fortalecer as suas reputações no mundo, seja via turismo ou pela tentativa de atrair negócios.
A Colômbia, por exemplo, vem trabalhando arduamente há anos no fortalecimento de sua reputação, com o objetivo de afastar a imagem do país de um local controlado pelo tráfico de drogas. A economia Colombiana cresceu cerca de 4% ao ano nos últimos anos, apoiada no aumento da segurança do país e em decisões políticas acertadas. Em paralelo, o Reputation Institute verificou um aumento de 20,4% na reputação da Colômbia entre 2010 e 2015, o que fez do país o grande destaque positivo da América Latina no ano passado.
Enquanto isso, a Copa, apesar de sua cobertura internacional positiva quando o evento finalmente começou, serviu para mostrar ao mundo a nossa instabilidade. A dúvida se haveria ou não Copa no Brasil, os estádios (caríssimos) construídos em locais sem tradição de futebol, as obras superfaturadas, as promessas não cumpridas e as denúncias de corrupção pré e pós-copa contribuíram negativamente para a nossa imagem e reputação.
* Tatiana Maia Lins é Consultora em Comunicação com foco em Reputação Corporativa, Diretora da Makemake Comunicação e Editora da Revista da Reputação.