Entrevista: Marlene Marchiori
“As pessoas são “O” processo de Comunicação”
A última entrevista do ano da Revista da Reputação foi um bate-papo com Marlene Marchiori, que é professora do MBA da FIA USP, da Universidade Estadual de Londrina e da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial – Aberje, além de consultora e mentora de lideranças. A entrevista se desdobrou em um conteúdo audiovisual que está disponível no YouTube da Makemake. Marlene é daquelas pessoas que gostam de falar e que, quando falam, constroem pontes com as pessoas com as quais está interagindo. Abaixo, um resumo da conversa, que pode ser acompanhada na íntegra no canal do YouTube “Makemake Reputação”.
Tatiana Maia Lins: Em nossa conversa preliminar, você falou uma coisa que achei muito interessante. “As pessoas são o processo (de comunicação)”. O que você queria dizer com isso e como chegou a esta conclusão?
Marlene Marchiori: Geralmente as pessoas veem comunicação como aquela que leva informação aos públicos. Essa comunicação não tem se mostrado como suficiente para que os processos fluam, ou seja, para que haja troca entre interlocutores. Quando falamos em comunicação como processo queremos dizer que ela é movimento contínuo. A cada nova fala, interação, evoluímos nos diálogos, nos aprendizados e nos capacitamos a sermos atores nesse processo e não meros espectadores.
Pessoas são certamente o principal ativo da organização. Há um ganho substancial quando as pessoas estão efetivamente envolvidas, quando são participantes ativas no processo de construção de uma ideia, por exemplo. Pessoas são quem dão vida ao processo. Evoluímos porque há não só compreensão daquela mensagem, mas troca, evolução do pensar.
É muito bacana observarmos empresas onde as pessoas têm sintonia, sentem-se próximas na qual o “fazer junto” é uma prática que vai transformando o ambiente e colaborando para sua evolução.
Há muito tempo você trabalha com comunicação para transformação de lideranças. Você percebe mudanças nos perfis das lideranças nos últimos anos e, principalmente, após a pandemia?
Acredito ser esse um dos trabalhos mais relevantes nos negócios. Por que? Exatamente pelo fato de compreendermos que sem protagonismo, escuta ativa, atitude, exemplo não iremos longe como liderança. O líder inspira seu time, está próximo, promove feedback e também é aquele que impulsiona pessoas. Quem influencia o time? A pessoa que está mais próxima dele.
Acredito sim na evolução da liderança e em especial, nos últimos três anos, tenho mentorado vários projetos em diferentes níveis da organização, não envolvendo apenas alta administração. Afinal, pessoas são seres comunicacionais. Tenho também percebido em inúmeras conversas como é crescente a preocupação com o valor dos relacionamentos com stakeholders.
Muitas empresas estão mapeando estes públicos, para que programas de relacionamento possam ser criados e fortalecidos. Essas estratégias colaboram no fortalecimento da Marca, mas torna-se hoje na atual Sociedade, estarmos próximos, interagindo com públicos ao ponto inclusive de tomarmos decisões em conjunto.
A colaboração e a co-criação fortalecem a predisposição dos envolvidos em confiarem uns nos outros. Você constata, na prática, ganhos de engajamento dos públicos em ações colaborativas e co-criadas?
Certamente, os ganhos são imensos e fortalecem a proximidade e troca. É bem provável que nos contextos colaborativos possa emergir muito mais inovação, pois as pessoas sentem-se ouvidas e desejam participar. Essa colaboração visa compartilhar expectativas, conhecimentos e experiências entre as pessoas construindo a partir desses diálogos deliberações inovadoras.
Acredito muito nas dinâmicas de conversação onde os pontos de vista se alteram e o crescimento das pessoas envolvidas naquele processo ocorre, emergindo novos pensamentos, ações certamente antes não pensadas.
Que exemplos bacanas estão acontecendo de comunicação corporativa que você gostaria de compartilhar?
Tenho trabalhado muito com projetos de planejamento de comunicação estratégica e também mapeamento de stakeholders. Referencio o trabalho que vem sendo desenvolvido para o Sistema Ocepar, que é muito interessante pela utilização do Canvas de Comunicação. Articulamos ideias, construímos coletivamente, foi prazeroso estar com esse time. A ideia é criar uma rede de atuação integrada a partir da ação conjunta dos profissionais de comunicação.
Como você acredita que as empresas devem se comunicar em 2021 (e nos próximos anos) para continuarem competitivas apesar da crise econômica e de saúde que estamos enfrentando?
Para mim há dois movimentos que se ampliaram durante a pandemia e que vão ser intensificados em 2021: o Cuidado com as Pessoas e a Consciência Coletiva. A empatia como valor no processo de construção de Marcas. Discursos genuínos onde revelamos e contamos histórias de “como” estamos fazendo. O momento pede um movimento de ir muito além do negócio, observando o comportamento da Sociedade e, a partir dela, revisitar seu legado.
* Tatiana Maia Lins é fundadora da Makemake – A Casa da Reputação e editora da Revista da Reputação. É também professora do Master em Comunicação Empresarial Transmídia da ESPM e do curso de Reputação para Competitividade da Aberje.