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O que aprendi como digital influencer 40+ plus size

Eu, fundadora de uma consultoria em reputação corporativa e professora, nunca me vi como uma possível blogueirinha de lifestyle e skincare. Mas tudo tem a sua primeira vez na vida, se a pessoa se permitir novas experiências e aprendizados. Pois, eu vivi um momento influencer plus size 40+ para a linha Botik, de O Boticário em novembro, e gostaria de compartilhar aprendizados importantes.

Minha vida de influencer no Instagram começou no Linkedin. Foi lá que vi um post da Marina Filippe com uma matéria da Revista Exame sobre a ação de O Boticário para divulgar a linha #Botik. Eles estavam selecionando 200 mulheres em um concurso, cujo prêmio era um curso para democratizar o conceito de influência digital, além de um produto da linha #Botik.

Falou em democratizar qualquer coisa meu olho já brilha e arregala. “Que ideia genial! Vou me inscrever. Quem sabe sou escolhida? Vai ser divertido e de quebra vou aprender a deixar o meu conteúdo mais atraente!”, pensei. Me inscrevi e abri o meu perfil no Instagram, até então fechado apenas para amigos. Mal sabia eu que muito mais que divertido, seria uma experiência que vou carregar para a vida.

O resultado saiu na semana seguinte ao meu aniversário de 42 anos. E lá estava eu. a empreendedora gordinha, com cabelo branco aparecendo, casada, mãe e nordestina morando em São Paulo entre as 200 selecionadas. Foram 3.200 inscritas. E entre as selecionadas estavam mulheres de vários estados, com idades entre 40 e 72 anos.

As 200 selecionadas participaram de um curso do Youpix com seis aulas entre os dias 4 e 16 de novembro de 2020. A cada aula tínhamos um dever de casa para fazer, sendo o último deles fazer um post no feed com o produto da campanha. Aquele post bem blogueirinha. Esta tarefa final levou à escolha de 10 participantes entre as 200 para mais uma fase em que a premiação foi mais uma aula e mais produtos Botik como recebidinhos. Agora que já descrevi a dinâmica da ação, vamos aos três principais aprendizados.

Aprendizado 1: Chega de estereótipos

Como é a mulher com mais de 40 anos na sua cabeça? O que ela come? Onde ela mora? Como se diverte? Como se reproduz? É, pessoal, não dá para colocar as mulheres com mais de 40 anos em caixinhas estereotipadas. Nós não suportamos estes enquadramentos. E somos múltiplas. Participamos de maratonas, empreendemos, falamos de make-up e também sobre clitóris.

As receitas de cocada não são uma preocupação porque sabemos que se a nossa tentativa caseira não der certo, podemos comprar cocada pronta. Temos filhos crescidos e também filhos pequenos. Algumas estão tentando a maternidade. A grande maioria já descobriu que não existe príncipe encantado, tampouco fada madrinha.

Não somos nativas digitais, mas temos conteúdo para dar e vender. Aliás, estamos doidas para vender conteúdo para as marcas e ajudá-las a conversar conosco. E este último ponto me leva para o segundo aprendizado.

Aprendizado 2: As marcas não sabem conversar com as mulheres 40+

Se as marcas ainda nos colocam em caixinhas de estereótipos, é óbvio que elas ainda não sabem conversar conosco. E isso é uma cegueira de marketing. Uma busca simples sobre economia prateada no Google traz o seguinte dado: “quando comparado com os mais jovens, o consumo dos maduros cresceu 3x mais rápido na última década”.

Em 2020, a pirâmide etária brasileira já apresentou uma redução da base e um encorpamento do meio de sua estrutura. Se em 1940 a expectativa de vida ao nascer era de 45,5 anos no Brasil, em 2018, a expectativa de vida das mulheres chega a 79,9 anos, enquanto a dos homens é de 72,8. Que tal aprender a conversar com este público e se aproximar dele?

Nós não queremos propagandas que nos aprisionam. Queremos conversas que curam, que nos libertam. Um belo exemplo foi a conversa que realizei como resultado de um dos desafios e que virou uma mega collab com 4 de nós da #GeraçãoBotik (eu, Tatiana Siqueira, Larissa Dantas e Val Cirello) sobre gordofobia e a busca da felicidade. Falamos abertamente sobre um tema sensível para muitas pessoas, a gordofobia. E chegamos à conclusão de que a gordofobia deve ser combatida dentro de casa em primeiro lugar. Porque é em casa que sofremos as maiores pressões. Isso é transformador na sociedade e vale mais, muito mais do que uma propaganda de TV que ninguém mais vê. Conversas como esta precisam ser replicadas para alcançar públicos maiores. E as marcas podem e devem ocupar o papel de protagonistas de conversas transformadoras.

Aprendizado 3: Nossa influência é maior do que a da Beyoncé

Bora falar de métricas de verdade? Métricas de influência? A quem você recorre quando precisa da indicação de um médico? E para indicação de serviços cotidianos, como os de reparos para a casa? E para aquele pão ou bolo delicioso? E para a escolha da escola dos seus filhos? Beyoncé é linda, influencia horrores, é uma potência. Mas não vai nos responder se perguntarmos a ela o número do encanador. Tampouco podemos consumir os produtos e serviços que ela realmente consome – seja por questões financeiras, mercadológicas ou whatever.

Então vamos falar sério? Beyoncé e grandes estrelas possuem alcance. Mas os perfis “gente como a gente” de micro influenciadores ou nano influenciadores (aprendi essa categoria no curso), possuem engajamento muito maior. Duvidam?

Eu tenho pouco mais de 500 seguidores e o meu post blogueirinha teve mais de 200 curtidas ao final do primeiro dia. Com comentários de super alta qualidade dos meus amigos de infância, do trabalho, do ballet, da rua onde moro, da escola, da associação que faço parte. Tive engajamento de gente que está morando em várias cidades: São Paulo, onde moro agora, Recife, onde nasci, Rio de Janeiro, onde morei – além dos amigos que moram em outros países. Tive curtida ou comentário de amigo morando na Alemanha, na Inglaterra, na Holanda, na China e até na Grécia. Beijinho no ombro.

Constatei na prática o que as pesquisas indicam. O Trust Barometer todo ano mostra a importância do perfil “gente como a gente” para os laços de confiança. E a Bia Granja trouxe um dado “uau”: uma nano influenciadora chega a ter 6 vezes mais engajamento do que uma influencer de massa.

Obrigada, Boticário e Youpix, por esta experiência. Obrigada, mulherada da #GeraçãoBotik, por tantos aprendizados. E obrigada, minha amiga Nara Almeida, por me ajudar com essas fotos tão lindas e por todo apoio de sempre.

* Tatiana Maia Lins é fundadora da Makemake – A Casa da Reputação e editora da Revista da Reputação. É também professora do Master em Comunicação Empresarial Transmídia da ESPM e do curso de Reputação para Competitividade da Aberje.