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Liderança Shakti e o equilíbrio de gêneros

Você pode encontrar o título “A pessoa que você é, é o Líder que você é” no livro “Liderança Shakti – O equilíbrio do poder feminino e masculino nos negócios”, dos autores Nilima Bhat e Raj Sisodia. Eu o considero a essência do tema que me trouxe aqui hoje. Começo este artigo pela minha história. Sempre fui executiva em agências de comunicação e do mercado financeiro. Tenho 57 anos e trabalho desde os 21. Já fiz muito, mas penso que não estou nem na metade de tudo que quero manifestar neste mundo. Vamos lá!

Em 2014, fui contratada por uma grande agência de RP para desenhar a área de comunicação interna e os serviços que seriam oferecidos aos clientes. Devo avisar que essa experiência mudou a minha vida porque durante anos de trabalho, o meu desafio sempre foi o de encontrar mil maneiras para as pessoas consumirem mais. Todos os projetos poderiam ser simploriamente resumidos em como “vender alguma coisa para alguém”. O job desta agência me forçou a olhar para os colaboradores. Descobri, nesta época, que este era um “público consumidor” abandonado por uma grande parcela das empresas. Lembro que me senti triste duas vezes: primeiro, por constatar que as empresas definiam colaboradores como recurso e, segundo, por eu ter percebido que eu mesma nunca tinha percebido e olhado de verdade para este público o respeito que tanto merece. Foi a partir deste episódio que se deu a largada para a minha jornada do autoconhecimento rumo à Liderança Consciente.

Me aproximei, acidentalmente, do movimento do Capitalismo Consciente que, naquele ano, tinha duas pessoas na organização e poucos associados. Li todos os livros do fundador do movimento, Raj Sisodia. Tornei-me fã de carteirinha. Em 2016, fui impactada por um post dele no LinkedIn que dizia que, junto com Nilima Bhat, iria conduzir um workshop na Índia sobre o livro que tinha acabado de escrever e lançado nos EUA.

Não pensei duas vezes, me inscrevi no curso. Sem conhecer ninguém, com inglês totalmente enferrujado e sem ter lido o livro inteiro. Eu fui porque ouvi aquela vozinha interna dizendo: vai assim mesmo. Nunca mais voltei a ser aquela pessoa que foi para a Índia. Quando retornei para São Paulo eu já tinha decidido publicar o livro no Brasil com o apoio do Instituto do Capitalismo Consciente. Desde então, como embaixadora do Capitalismo Consciente, promovo essa visão consciente da Liderança.

Por que eu te contei a “minha vida” para falar da Liderança Shakti? Porque falar sobre Liderança Shakti significa que todos nós percorremos duas jornadas simultâneas: a primeira, interna, pelo autoconhecimento, quando você descobre a pessoa incrível que você já é. A segunda, externa, a descoberta do seu propósito mais elevado, a sua contribuição para o mundo. O que estas jornadas têm em comum? Ambas chamam a atenção sobre a forma como operamos a nossa vida. Operar significa liderar. Eu sou a Líder de mim mesma. Eu estou no comando do meu navio. Faço as minhas escolhas. Já quando atuo no meu trabalho, trago o melhor de mim para manifestar todos os meus sonhos.

Só é possível liderar os outros quando sabemos quem somos nós. É ter consciência de que somos luz e sombra. Quando não temos esta visão de nós, vivemos o que chamamos de “fragmentado”. Não somos inteiros e nos tornamos medrosos e inseguros. Liderar como uma pessoa inteira requer que homens e mulheres, igualmente, explorem e integrem as qualidades “masculinas” e “femininas” inatas.

Liderança Shakti: Integrando “masculino” e “feminino”.
1) Estamos falando de gênero?
Não, estamos nos referindo às características femininas e masculinas que todo homem e mulher naturalmente tem.

2) O que “masculino” e “feminino” tem a ver com Liderança?
Por séculos, nós validamos o modelo de liderança fundamentada no patriarcalismo que, na sua essência negligência não só as mulheres como as características femininas presentes em todo o ser humano.

3) É possível falar sobre a Liderança Shakti nas empresas?
Sim. Diria que é urgente e necessário, mas nem sempre uma tarefa fácil. Por que? Porque temos crenças distorcidas sobre o que é sucesso e poder.

Herança do Patriarcado
As empresas valorizam um conjunto de valores tradicionalmente considerados masculinos imaturos ou tóxicos: dominação, agressão, ambição, crueldade, brutalidade, vencer a todo o custo, pensar no curto prazo e uma mentalidade do “eu ganho e você perde”. Importante dizer que ao lado deste lado sombra existente em todo o ser humano, coexistiram os valores masculinos maduros, como força, discernimento, foco, disciplina e coragem. Chegamos aqui graças a tudo isto.
Ouvimos um grande chamado quando entramos em contato com a essência da Liderança Shakti: um convite para resgatarmos nossas características femininas há tanto tempo desvalorizadas, diminuídas, ridicularizadas e negligenciadas POR TODOS NÓS. Vou repetir: POR TODOS NÓS.

Jornada do Herói: a pessoa que você é: o líder que você é
Eu nunca mais fui aquela executiva que viajou para a Índia porque eu descobri que o feminino presente em mim – como a sensibilidade, a criatividade, a empatia, a confiança e a vulnerabilidade – precisava se integrar aos valores masculinos com os quais eu liderava a minha vida. Essa é a pessoa que dá o tom na Líder que eu mesma sou. Quando estamos em estado de presença (atentos ao que acontece no presente), conseguimos ver e entender o contexto que estamos experimentando com mais discernimento. Se você permanecer neste estado, você tem toda a condição do mundo de responder o que a vida pede, navegando e usando conscientemente os seus valores femininos E masculinos. Você se torna flexível. Exemplos: Você pode ser gentil E assertivo. Pode ser criativo E disciplinado. Pode ser vulnerável E manter o foco. Você passa a colecionar “Es”. Rola uma dança entre o feminino e masculino. Você escolhe o tempo todo com que valor vai enfrentar a vida.

Dica: quando a sua vida não estiver legal, se pergunte: por acaso eu não estou escolhendo os valores femininos imaturos como carência e dependência ou os masculinos como agressividade, crueldade e arrogância para resolver os meus problemas?

Resgatar o feminino é uma oportunidade única de colocarmos no repertório corporativo valores como amor e cuidado. Quando estas duas palavrinhas forem corriqueiras nos corredores das empresas, certamente, teremos pessoas com a sua potência feminina ativa integrada ao masculino que tudo constrói e que nos trouxe até aqui. Liderar é coisa para homens e mulheres que estejam operando de forma equilibrada com o feminino E masculino para criar uma nova realidade.

* Maria Silvia Monteiro da Costa é embaixadora do Capitalismo Consciente no Brasil e iniciadora do Movimento da Liderança Shakti no Brasil.