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Qual o lugar da reputação?

Reputação é um dos termos mais falados e demandados nos dias atuais. Mas, o que significa ter a honra de estar neste lugar privilegiado?

Tenho me debruçado já há uma década no esforço de entender as vertentes que buscam aprofundar o significar do termo reputação. Nesse esforço de entendimento, o questionamento persistente tem sido a critica acerca dos modelos aceitos como inquestionáveis e determinístico para a legitimação, capaz de julgar, inserir ou excluir sujeitos (organizações ou indivíduos). Premiações que que não consideram, no processo de escolha, as mais variadas culturas, valores, vivências, momentos evolutivos, causas, paixões, sentimentos – dos mais divergentes – e partes inerentes da conduta e do existir individual e coletivo humano.

O que meus estudos e minha vivência profissional em construir imagens e marcas, por mais de três décadas, confirmaram-me é que a capacidade em escutar, entender as nuanças da alma humana é ainda o meio mais efetivo para gestores, líderes, levantarem atributos que possam vir a gerar sintonia com aqueles de suas marcas e se alinhem às expectativas dos mais variados sujeitos, principalmente no contexto do sistema capitalista imaterial e cognitivo contemporâneo.

Eles servem para orientar as relações e negociações, as atitudes, os comportamentos e transformam-se em poderosos indicadores de valor, estratégicos, se sustentados pela competência em absorver, dialogar e dar resposta às expectativas de coerência (uma das principais expectativas dos sujeitos coletivos do ambiente social nos dias atuais), por parte de investidores, acionistas, funcionários e cidadãos.

Se o comportamento da organização seguir por essa via, a possibilidade de manter o equilíbrio, obter percepção de coerência, por parte dos sujeitos do seu entorno relacional, tem muita chance de efetivar-se. Mas o caminhar para esse local “reputável” tão almejado não deve ser orientado por modelos fechados, extremamente racionalizáveis, sustentados por indicadores estritamente estatísticos e focados apenas na mensuração matematizável usados para comprovar a conquista da legitimidade e do status de honradez.

A honra vai muito além dos números – envolve outros indicadores e unidades de valora muito mais virtuosas. O humano, os sentimentos e as variáveis passionais vão muito mais além do que quadros e imagens construídas em narrativas racionais, discursos pensados pela perspectiva da era analógica do século XX.

Uma perspectiva reputacional do nosso século e do homem dos nossos tempos -virtualizado, móvel, inconstante, descompromissado, volátil, quase liquefeito, vivente da complexidade, na perda de sentido – que busca significar sua existência – é outra. Fala-se muito em geração x, y, z, p etc, discursos de moda que nos qualificam como x, y, z. Mas nós, humanos, somos tão simples assim que basta nos qualificar e somos alocados em um perfil determinado? Afirma-se que o choque de gerações gera conflito. Mas, ao longo da historia sempre convivemos com essa instabilidade e sobrevivemos. O que é diferente e o que nos torna iguais? A resposta: nossos valores, paixões e aquilo que nos une e faz com que nos sintonizemos uns com os outros – independente de sermos indivíduos, coletivos ou organizações. Se não nos identificamos com elas, não conseguimos reputar, validar, honrar, apenas julgamos. Nessa seara se faz presente a norma (de valor, cultural, social ou norteadora de cada agrupamento organizacional).

Ser reputável nesse mundo complexo alinha-se por uma interpretação de reputação móvel, dialógica, porosa, mas principalmente evolutiva. Ela considera e equilibra a perspectiva racional, exigida pela gestão, e as variadas considerações que permeiam a alma humana, as variadas demandas dos diversos sujeitos coletivos do entorno de cada organização – essencialmente, agrupamentos humanos. É um grande desafio, mas factível e possível.

Se como se comprova, por meio de pesquisa e estudos empíricos das interpretações acerca dos significados do termo e do que é gerir reputação, a Comunicação, como instrumento de poder, legitimação, exclusão e inclusão (Castells.2010) é aquele local legitimo para gerir e propiciar reputação. Assim, como comunicadores, aglutinadores e agentes do dialogo, devemos e temos que adotar novos posicionamentos e perspectivas.

Afirmo, sem medo de ser criticada, mas sustentada na minha própria historia e vivência: “temos que sair da cadeira, eliminar a postura de front e irmos para o back, os bastidores, voltarmos à essência humana, conversar, entender; aos velhos tempos do ouvir, traduzindo para dentro da organização e negociando as vozes em conflito do ambiente externo – muito mais do que narrarmos. Afinal agora temos um dos instrumentos mais poderosos da historia evolutiva da técnica graças ao extremo desenvolvimento das NTICs. As organizações precisam urgentemente dessa nossa “nova” postura.

O homem atual vive no que denomino de technogical life e por essa característica, tudo o que faz passou a ser technological, falamos, agimos, somos communication´s technogical human e por isso mesmo, dialógicos; tornamo-nos, por incrível que pareça, mais humanos, porem um humano “desestático”, “mutável” que só existe por ela e com ela, mas que desaprendeu as essências que o tornam um ser especial – um ser passional e virtuoso.

Assim, como não pensar a gestão Reputacional de organizações norteada por dimensões que “mensurem” o grau de Justiça e Respeito, acompanhadas pela avaliação do grau de bondade, compassividade, equanimidade nas relações mantidas com todos os universos? Uma gestão que se norteia por um processo dialógico que lhe destaca pela excelência dessas dimensões, agraciada pela transparência mantida, que seja eficaz, mas acima de tudo honesta e verdadeira em suas promessas.

Uma gestão norteada em oferecer produtos de acordo com as necessidades efetivas de uma sociedade complexa, difícil; colocados no mercado e orientados por estratégias de mercado orientadas no equilíbrio das virtudes (justiça, respeito, bondade, equidade, compaixão) em relação à essência da sobrevivência da vida. Uma gestão Reputacional equilibrado ajuizada, auxiliada pela comunicação não àquela centralizadora e controladora e mesmo construtora de significações míticas, mas verdadeira, real – agente de entendimento, dialógica, processual, que viabilize a evolução de todos os participantes da “egrégora” que ela, a Comunicação, constrói para a organização e todos de seu entorno. Agora sim, nesse patamar, podemos falar de uma “gestão reputacional, integradora e efetivamente virtuosa”.

* Ana Lucia De Alcântara Oshiro é PhD em Ciências da Comunicação, diretora da Tática Consultoria e coordenadora da rede colaborativa de pesquisa e estudos em discursos reputacionais NomuseLocus. É autora do recém-lançado livro Reputação, Norma, Ativo e Confiança – as interpretações do Capital, da Comunicação e do Virtual coletivo, em formato e-book e impresso.