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Reputação Brasil: seminário debateu novas narrativas para o país

Encontro realizado no Museu do Amanhã deu início ao movimento que pretende unir esforços da sociedade civil pela boa reputação do país.

Na última quarta-feira, 25/10/2017, o seminário “Reputação do Brasil >> Caminhos para o Amanhã” reuniu, no Museu do Amanhã, 24 palestrantes na programação e uma plateia de cerca de 150 pessoas ao longo de um dia de debates com seis painéis.

Entre os debatedores, um dos fundadores do Reputation Institute, o holandês Cees Van Riel, o pioneiro nos estudos sobre confiança no Brasil, Marco Túlio Zanini, o responsável pelos estudos de competitividade brasileira que são enviados para o Fórum Econômico Mundial, Carlos Arruda, a professora da FGV e consultora em ativos intangíveis Carmen Migueles, o empresário Ingo Plöger, as jornalistas Marta Porto (consultora do Banco Interamericano de Desenvolvimento e diretora da Juntos – Comunicação por Causas) e Isabel Clavelin (assessora de comunicação da Onu Mulheres, além de Fred Gelli, criador das logomarcas Rio 2016, de Ricardo Voltolini, criador da Plataforma Liderança Sustentável e tantos outros e outras de igual importância para o país.

Fotos: Guilherme Leporace / Museu do Amanhã

A ideia do seminário era responder perguntas como “O que faz um país sediar eventos grandiosos como Copa do Mundo e Olimpíada e ainda assim perder nove posições no ranking do Reputation Institute, organização que realiza anualmente a classificação da reputação de empresas e países?” e “O que fazer para que o Brasil consiga ter uma boa reputação a longo prazo?”

Este ano, o Brasil alcançou 59,6 pontos, dois a mais do que no ano anterior, mas foi ultrapassado por países como Chile e Argentina. O Peru é o país da América Latina com melhor reputação, estando em 25º lugar no ranking.

“Reputação é percepção de longo prazo e é também uma ferramenta de soft power (poder de persuasão). O evento foi criado porque precisamos de esforços conjuntos concretos e sustentáveis de todos os atores econômicos e sociais para a construção de um país com boa reputação para as futuras gerações, sem que os rumos dos trabalhos mudem a cada eleição. A reputação ainda está muito tímida na definição de metas e na articulação dos agentes econômicos e sociais”, explicou Tatiana Maia Lins, organizadora do movimento Reputação Brasil e diretora da Makemake, consultoria especializada em Reputação Corporativa.

Maior reputação indica mais investimento e turismo

“A reputação impacta o desempenho econômico de um país ao sinalizar para diferentes públicos – sejam investidores estrangeiros ou mesmos turistas – a credibilidade daquele país. Para se ter uma ideia, com base em nossas pesquisas avaliando a reputação de mais de 30 países ao redor do mundo, sabemos hoje que um incremento de 1 ponto em reputação tende a aumentar em média 15% a intenção de turistas conhecer aquele país ou mesmo em 16% a predisposição de importadores a comprar produtos daquele país. A discussão sobre Reputação é importante para o Brasil nesse momento, porque a quebra da confiança, do respeito e da admiração do país influenciam diretamente as oportunidades e os riscos”, afirmou Ana Luisa Almeida, presidente do Reputation Institute no Brasil, um dos apoiadores institucionais do seminário.

Marco Túlio Zanini, professor da FGV-EBAPE, pioneiro nos estudos sobre confiança e um dos palestrantes do evento, contextualiza a importância citada por Ana Luisa. “Vivemos um momento único e sem precedentes na história do Brasil. Estamos inaugurando novas possibilidades. É hora de pensarmos possíveis caminhos para o amanhã. Sabemos que uma coalisão orientada por valores constrói a reputação das grandes marcas e forma a base para a boa governança e a prosperidade econômica. As evidências mais contundentes parecem ter surgido em meio à crise atual, quando escândalos de corrupção e de má conduta em gestão são sucedidos por grandes perdas. Nosso desafio é reconstruir a confiança nas instituições e organizações”.

A necessidade de se trabalhar a reputação como um projeto de nação foi também defendida pelo empresário Ingo Plöger, ex-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha e Presidente Internacional do Conselho Empresarial da América Latina até 2016. “O Brasil está perdendo valor a olhos vistos, por não cuidar bem de sua reputação. O valor das empresas é maior, o nosso risco é menor, e a perspectiva é mais positiva do que avaliada. Necessitamos com urgência nos convencer da gestão de reputação de nossos ativos como pais e empresários.”.

Para o Museu do Amanhã, o amanhã é hoje e hoje é o lugar da ação, por isso eles abriram as portas para este seminário.”Queremos contribuir para o aprimoramento do debate construtivo, que eleve o nível das discussões para ajudar o país a formar opiniões mais maduras e menos superficiais rumo ao Brasil que queremos. É preciso acreditar mais nas estratégias de gestão da reputação como poderoso instrumento de construção e desenvolvimento de legado e percepção de valor”, afirmou Rafael Veras, diretor de comunicação do Museu do Amanhã.

Fortalecimento da reputação passa por resgate da autoestima

A conclusão do seminário foi de que precisamos melhorar a nossa autoestima. E trabalhar pela legitimidade de novas narrativas para o país. A retomada da confiança passa por um pacto social pautado em ética e no engajamento social e de lideranças de todos os setores em prol da mudança de mindset de “farinha pouca, meu pirão primeiro”. O mundo nos vê de forma melhor do que nos percebemos. Precisamos explorar melhor as nossas vantagens competitivas em narrativas de país para além do samba, do carnaval e da corrupção. Estamos punindo os corruptos e tendo a chance de mudar padrões até então vigentes no país. É hora de pensarmos o que queremos para o Brasil do futuro. E agir. Porque o Brasil do Amanhã já começou. O hoje é o tempo de ação.

Temos como possibilidades de narrativas a nossa criatividade, o nosso borogodó, a habilidade de fazer mais por menos, a diversidade. A saturação de padrões de apadrinhamentos, privilégios e corrupção da velha política e da velha elite empresarial também constitui uma narrativa para reconstrução do país. O Brasil se modernizou e não suporta mais a naturalização da corrupção. A renovação dos quadros políticos é uma narrativa necessária e urgente para virarmos a página.

Outra possível narrativa deriva do posicionamento comparado a países com as mesmas características do Brasil: grande território, grande população, economia pautada em commodities etc em vez de comparações com países sem distinção para evitar comparações injustas. Somos o país de melhor reputação dos BRICs. E embora tenhamos perdido espaço para Peru, Chile e Argentina nos rankings de reputação, ainda somos vistos como o grande protagonista da América Latina.

Podemos também ter como narrativas inovação e sustentabilidade, se passarmos a tratar a sustentabilidade realmente como prioritária para a Nação e se as intenções de inovação vistas no último relatório de competitividade se concretizarem. Temos uma indústria de audiovisual com força no mundo e aberta a múltiplas narrativas de país, não a desperdicemos. Temos empresas conscientes de que não há licença social ou econômica para que existam sem governança e compliance. E temos toda uma nova geração de empreendedores que pautam os seus negócios em propósito, colaboração, engajamento e geração de valor compartilhado. O que nos falta é abandonar o complexo de vira-lata e manter a perspectiva de que construímos diariamente e em conjunto a reputação do país.

Muito mais que fronteiras geográficas, o Brasil somos todos nós, os brasileiros.

Para 2018, está prevista a realização de seis encontros para a elaboração de um documento com as linhas gerais para um Planejamento Estratégico para posicionamento positivo do Brasil a longo prazo. Estão previstos também encontros itinerantes para levar o debate sobre a reputação do Brasil a outras praças além do Rio de Janeiro, como, por exemplo, São Paulo, Recife e Brasília, de modo a aumentar o alcance da discussão.

O seminário “Reputação Brasil >> Caminhos para o Amanhã” foi uma realização da Revista da Reputação, editada pela Makemake, a Casa da Reputação no Brasil, com parceria de realização do Museu do Amanhã e IGD, Symbállein e IPDES e apoio institucional de Reputation Institute, Approach, Aberje, Textual, Ideia Sustentável, Ibram, Abrasca, FGV-EBAPE, Conselho Empresarial da América Latina, APIMEC, Plurale, Além das Palavras, Edelman Significa e Copacabana Palace.