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Reputação Brasil e o seu projeto de Nação

“O País precisa retomar a iniciativa formada por suas lideranças empresariais, sociais e dos governos para que possamos recuperar a Reputação Brasil. perdemos o protagonismo da liderança junto com a credibilidade”

A reputação é uma agregação de valor percebida. Muitas vezes percebemos que o “recall” na mente de uma pessoa existe mais forte do que a realidade demonstra. A percepção forma a perspectiva que determina a ação.

Quando a percepção é favorável, a tendência da perspectiva torna a ação presente mais positiva. Do contrário, quando a percepção é negativa, a perspectiva é recheada de crítica e a ação se torna negativa.

Atualmente, a instantaneidade da informação faz com que a percepção se amplie em nossas mentes. Quando se trata de notícia negativa, e marcante, a percepção gera impacto. Repetida nas redes, tornar-se-á altamente eficaz. A mobilização para o não mostra-se mais eficiente quando comparada às questões propositivas.

Se a percepção se forma pelo conjunto dos signos (imagens, opiniões, vivências e sentimentos), um país inteiro, uma organização ou uma liderança estão suscetíveis para além dos fatores racionais (hard facts), sendo submetidos cada vez mais aos fatores avaliativos (soft facts) influenciando o seu valor. Vejamos: fatos contundentes e irrefutáveis expressos em balanços das companhias revelam seu valor considerando sempre a perspectiva apresentada e referendada em muitos casos por agentes independentes. Em condições normais, empresas que negociam ações em Bolsa são precificadas não só pela procura e oferta, mas pela expectativa de ganhos/perdas futuros.

Situações recentes envolvendo a Samarco e a Petrobras, no Brasil, mostram quão sensível é o valor da reputação e de que forma atinge companhias até então vistas como ilhas de excelência agora despencando para a desgraça. No cenário internacional há outros exemplos de empresas e instituições. Um dos mais recentes tem no centro a FIFA, cujo “recall” anterior remetia à organização de campeonatos excepcionais e hoje, devido à malversação de recursos, a reputação é sofrível.

Percepção de corrupção é adversa ao desenvolvimento sustentável

Ora, se o status é verdadeiro em empresas e em instituições será verdade também para países? No caso brasileiro percebemos que a imagem e a crença de que somos um país de potencialidades e de excelência está longe de ser crível. A percepção externa da corrupção permeia todas as organizações e que a crise econômica, moral e institucional é crônica em nossa cultura e valores, constitui um conjunto de perspectivas adverso ao desenvolvimento sustentável.

A sociedade civil brasileira reage, desde 2013, com intensas manifestações contra a corrupção e a má gestão pública. Crescente e consistentemente, o movimento ganhou corpo e reverberou nas ações do Poder Judiciário além, é claro, da opinião pública. Olhando o Brasil de fora, percebemos que esse processo de transformação deveria receber a “medalha de ouro na luta contra a corrupção e a má gestão”. Mas como a reputação do País foi duramente golpeada – e, por extensão, a depreciação dos ativos brasileiros –, precisamos esclarecer, a todo instante, “que o Brasil está no caminho certo”.

Não é segredo que o Brasil é protagonista internacional em muitas áreas – como no agronegócio, sustentabilidade, inserção social, engenharias inovadoras etc. –, mas perdemos o protagonismo da liderança junto com a credibilidade.

A consequência é um preço alto demais que pagamos através da desvalorização dos ativos e insegurança no ambiente de negócios. É inegável que estes ativos têm valor superior àqueles atualmente negociados. Perdemos o investment grade por desavenças econômicas. Agora urge encaminharmos as reformas ao Congresso. Mas, quanto tempo teremos de aguardar a aprovação? Um ano, talvez? Nem pensar! As agências de rating vão “esperar para ver como as coisas irão se desenvolver”. Não há racionalidade nisto.

Reputação Brasil tem que ser projeto de Estado, não de Governo

O País precisa retomar a iniciativa formada por suas lideranças empresariais, sociais e governamentais para recuperar a Reputação Brasil. Trata-se de um Projeto de Estado e não de governo. É uma iniciativa de longo prazo, mostrando que somos maior que os problemas atuais.

O Brasil é parte da solução na agenda econômica mundial; da solução de processos democráticos, de paz e harmonização na América Latina. Somos, também, parte da solução na segurança alimentar mundial e na segurança energética, só para citar algumas importantes realizações.

Por isso, precisamos botar a mão na massa e fazer andar este projeto de líderes. Apostamos na sinergia entre Executivo, Legislativo, Judiciário e as lideranças empresariais, sociais e culturais da sociedade brasileira. Logo, a mobilização das comunidades interna e externa é premente, a fim de aprimorar as instituições rumo a um futuro melhor. Podemos aprender ainda mais com as Paralimpíadas, mostrando que a superação de nossas deficiências é possível com muita garra, entusiasmo, alegria e companheirismo.

Ingo Plöger é Presidente internacional do Conselho Empresarial da América Latina-CEAL