Covid ainda não impactou a reputação do setor farmacêutico
Estudo da Caliber mostra que a reputação das 14 maiores empresas globais do segmento farmacêutico se manteve no mesmo patamar entre o final de 2019 e o início da pandemia.
Realizar estudos em âmbito global como forma de entender com detalhes a percepção da sociedade em diferentes países, o impacto dessas percepções nas marcas locais e internacionais e a resultante na forma da reputação das organizações. Esse é o objetivo que tem nos movido na Caliber.
No ano passado conduzimos o estudo Global Financial Study, avaliação abrangente do setor financeiro com um monitoramento em 13 países com 124 empresas monitoradas e 13.281 avaliações. O país com o maior índice de confiança e admiração para o setor financeiro é a China (78,1 pontos) e o Brasil ocupa a 2ª. posição com 71,1 pontos. Por conta do nosso estágio de desenvolvimento, acesso à informação e código cultural acabamos tendo um olhar mais confiante e propositivo em relação ao segmento financeiro do que as nações mais desenvolvidas, onde existe maior questionamento sobre a sua atividade.
Este ano, realizamos o estudo Global Pharma Study, analisando de forma inédita a reputação do setor farmacêutico realizando 13 mil avaliações, sobre 67 empresas do setor que atuam em 17 países. Entre essas empresas estão 14 laboratórios globais com operações no Brasil: AbbVie, AstraZeneca, Bayer, Eli Lilly, GlaxoSmithKline (GSK), J&J (Johnson & Johnson), Merck & Co, Novartis, Novo Nordisk, Pfizer, Roche, Sanofi, Takeda Pharma e Teva.
O estudo foi conduzido em duas etapas. A primeira etapa foi realizada no final de 2019 e a segunda, em maio deste ano, avaliando o impacto da pandemia de Covid-19 sobre as reputações das companhias do segmento. O interessante é perceber que nesse estudo as posições se invertem: em primeiro lugar no índice de confiança e admiração das empresas farmacêuticas, estamos nós, brasileiros, com 82,1 pontos contra a China que aparece em segundo lugar com 78,7 pontos. Seria apenas uma coincidência estatística? Como organização, estamos procurando outros indicadores e estudos para traçar um paralelo entre essas percepções.
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Esses dois estudos apontam conclusões similares que eu gostaria de destacar. Em primeiro lugar, cabe ressaltar que cidadãos dos países com melhor grau de instrução e renda tem percepções mais críticas sobre os dois segmentos (financeiro e farmacêutico). Suas ponderações residem em um olhar mais crítico e amplo da atuação da organização.
Os jovens, na faixa de 18 a 24 anos precisam ser conquistados pelas organizações tanto do setor financeiro quanto farmacêutico. São novas visões e valores que precisarão ser melhor compreendidas pelos segmentos. Isso demandará uma revisão do processo de comunicação das organizações.
Olhando apenas o Global Pharma Study, de uma forma global, verificamos um paradoxo: quando mais idade as pessoas passam a ter, menos elas acreditam na capacidade e qualidade das organizações do setor farmacêutico.
Ainda olhando em uma escala global, os profissionais da saúde – médicos, enfermeiros etc. conquistaram uma expressiva valorização da sua atuação pela sociedade. Esse é um caminho sem volta ou de valorização do que é essencial para a sociedade.
Por outro lado, todo o contexto da COVID ainda não teve influência sobre a reputação do setor farmacêutico. Segundo o estudo, a reputação das 14 maiores empresas globais do segmento se manteve no mesmo patamar (67,5 pontos antes da COVID) e durante a crise da COVID alcançou o mesmo patamar (67,4 pontos).
E, apesar de suas limitações de verba e de exposição, segundo os respondentes, as marcas locais acabam tendo mais relevância e diferenciação do que as marcas globais que têm maior alcance e poder de comunicação. Esses achados são insumos importantes para os profissionais que trabalham a reputação de empresas dos segmentos bancário e farmacêutico.
* Dario Menezes é professor da FGV e da ESPM, diretor executivo da consultoria Caliber e autor do livro “Gestão da marca e da reputação corporativa”.