Rio 2016: Só acaba quando termina
“Só acaba quando termina”. É o que o esporte nos ensina. Um décimo de segundo pode fazer a diferença na cor da medalha. Um ponto no instante final sela o destino de quem está em quadra.
Por isso, avalio que é prematura qualquer análise conclusiva sobre o impacto dos Jogos Rio 2016 para o Rio de Janeiro e o nosso país. Ainda nem entramos em campo! Estamos finalizando a longa e complexa preparação de sete anos, iniciada em 2009, com a vitória do Rio e do Brasil para sede da primeira edição dos Jogos Olímpicos na América do Sul. E o apito final se dará quando a última delegação paralímpica deixar o Brasil no final de setembro.
Cinco edições de Jogos Olímpicos no nosso currículo nos ajudam a contextualizar a realização do maior evento esportivo do planeta sobre ângulos mais diversos.
Durante a candidatura, o Rio competia com cidades poderosas, de países que já haviam realizado os Jogos pelo menos uma vez. Solução mais cômoda, naturalmente, para o movimento olímpico. Mas o mundo mudou e o exemplo do futebol, com a África do Sul em 2010, deixava sobre os aros o desafio de também sair do circuito “Elizabeth Arden”.
Na época, nossos concorrentes usaram e abusaram dos clichês do “olhar do Primeiro Mundo”, apelando para os riscos por conta da violência – como se não enfrentassem regularmente o terrorismo – e até mesmo colocando em xeque a capacidade de realização dos brasileiros.
No dia 2 de outubro de 2009, o melhor projeto técnico venceu e o apelo sobre a possibilidade de os Jogos catalisarem uma grande transformação urbana na cidade e acelerar o crescimento do esporte num novo continente falou mais alto para os eleitores do Comitê Olímpico Internacional (COI).
Hoje, quem vive no Rio de Janeiro já circula pelo legado de infraestrutura realizado por conta dos Jogos: o BRT, as novas vias expressas; o renascimento da área portuária como opção de lazer democrática, a céu aberto, que oferece espaço e integração em pleno coração do Centro da cidade; o Parque de Madureira, gigantesca área verde que nasceu na Zona Norte, tão degradada pelo crescimento urbano desigual.
Não é à toa que os aros olímpicos, vindos de Londres, foram fincados lá em Madureira, e não em Copacabana ou mesmo na Barra da Tijuca, onde está o Parque Olímpico. São sinais, sim, símbolos, de um compromisso com o que, mais recentemente, o COI determinou com a agenda 2020: realizar Jogos mais racionais, orientados para a transformação possível da cidade, desenhada a partir das demandas dos cidadãos e não o inverso. O Rio, portanto, já está antecipando a Agenda 2020, que norteará as próximas candidaturas olímpicas.
Milhares de profissionais e empresas de todos os portes, ao longo desses sete anos, se capacitaram e agora estão habilitados a trabalhar e oferecer seus serviços para a indústria dos grandes eventos esportivos, que movimenta enormes cifras e mercados em todo o mundo. Podemos, a partir de agora, estabelecer esse fluxo de mão dupla, também exportando o nosso know how. Por outro lado, também disputar com melhores chances um lugar mais alto no ranking mundial dos segmentos do turismo, eventos, entretenimento e da indústria criativa, vocações naturais do Rio de Janeiro.
O esporte ganhou protagonismo maior na agenda do nosso país e nunca se debateu e se mostrou tanto a sua força como motor de transformação social. E o melhor desses exemplos ainda estar por vir, a partir de 5 de agosto, nos inspirando ao vivo, pela TV e nos celulares. A necessidade de uma política de esporte de base para valer nunca ficou tão exposta e cabe a todos nós, cidadãos, exigir que ela seja implementada, se realmente achamos que ele é transformador.
Na história recente dos Jogos, nunca se enfrentou tamanha turbulência econômica e política ao longo da preparação para o evento. Ainda assim, as obras estão prontas, dentro do orçamento e com utilização recorde de recursos privados. O Comitê Organizador segue no cronograma com as milhares de entregas de logística e organização para receber atletas, jornalistas e turistas de mais de 200 países, atuando com regras firmes de transparência e compliance. Tudo isso já é uma vitória. E uma prova da nossa capacidade de realização.
É claro que tamanha crise nos tira energia e foco e aumenta o nível de incerteza e sombra sobre a imagem do nosso país. E pode, sim, impedir que todos os potenciais impactos positivos dos Jogos se realizem. Mas, ainda assim, o saldo gerado no processo de organização é, sim, positivo. E acredito que, assim que conseguirmos iniciar um novo ciclo de gestão pública e política no nosso país, certamente aproveitaremos melhor os benefícios de termos ousado realizar o maior evento esportivo do planeta.
Agora é a hora do esporte brilhar! Que venha, com os seus exemplos de respeito, excelência e superação.
* Carina Almeida é Presidente da Textual Comunicação.