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Uma mina de ouro no lixo

Uma mina de ouro no lixo

Por Guilherme Almeida

Atualmente, são gerados em todo o mundo mais de 2 bilhões de toneladas de lixo anualmente e 50% dessa produção provém dos 30 países mais ricos. E não para por aí: o Banco Mundial prevê um aumento de 350% da produção de lixo até o ano de 2050. Nos últimos 30 anos, a produção foi três vezes maior do que o crescimento populacional, e só de sacos plásticos são descartados mais de 1 milhão por minuto.

Mas, afinal, o que é lixo? Se olharmos no dicionário português, a definição para lixo é “qualquer material sem valor ou utilidade”. Só que isso não significa que tudo que vai parar nas lixeiras não tem valor. Estima-se que 90% do que é descartado é resíduo orgânico ou material reciclável e ambos possuem muito valor comercial. Vamos separá-los e entender o que são cada um e como podemos realizar seu tratamento.

Os resíduos orgânicos podem ser utilizados de várias maneiras. É possível reciclá-lo através da compostagem, processo onde microrganismos se alimentam daquele lixo, produzindo um material rico em nutrientes para serem utilizados na revitalização de solos e para a agricultura. Já na Biometanização, o princípio é o mesmo da compostagem com a diferença que, por ser em um ambiente controlado e sem a presença de oxigênio, a decomposição é feita por bactérias anaeróbicas, produzindo gás metano e composto orgânico. Esse gás, por sua vez, é captado e usado para a geração de energia. Outro modelo é o de aterros sanitários, onde os resíduos são colocados em um buraco e aterrados em seguida. Dessa maneira, também é possível usar a captação de gás para a geração de energia.

O Ministério do Meio Ambiente publicou um estudo que mostra que, com o lixo dos aterros de 91 cidades do Brasil, o gás metano gerado por esse resíduo tem potencial energético suficiente para gerar eletricidade para 6,5 milhões de pessoas, podendo abastecer quase toda a cidade do Rio de Janeiro.

Já o material reciclado recebe um tratamento diferente: ele é levado para uma unidade de valorização, onde será lavado e transformado em matéria-prima para dar vida a novos produtos. Infelizmente, o Brasil recicla menos de 2% do lixo que gera, e estima-se que a perda chegue a R$ 8 bilhões anuais em material aterrado.

E a pergunta que não quer calar é: se o mercado é tão grande e lucrativo, por que não aumentamos a reciclagem no nosso país? A maior dificuldade se dá na logística reversa desses materiais e na falta de responsabilidade do gerador deste resíduo em não segregar.

A grande maioria dos resíduos domiciliares gerados possuem uma forma correta de descarte, porém esse primeiro passo da reciclagem acaba estagnando nesta etapa, já que grande parte da população não tem educação ou conhecimento ambiental. Por isso, é muito importante que a informação seja sempre reforçada. O trabalho de cada um de nós faz toda diferença.

Vamos parar para refletir juntos: por que quando compramos um produto nós não guardamos a embalagem, já que pagamos por ela? Por que você ficaria indignado se alguém roubasse seu produto, mas não ficaria se roubassem a caixa? Porque para você a caixa não tem valor, ela é um lixo, e o que não vemos valor, nós queremos nos livrar, queremos jogar “fora”. Porém, se analisarmos mais a fundo, não existe o “fora”! Temos apenas um planeta Terra e, se não cuidarmos dele, em breve teremos que dividi-lo com o lixo.

Você sabia que o simples fato de separar matéria orgânica (lixo molhado) da matéria reciclada (lixo seco) aumentaria a taxa de reciclagem em 40%? Hoje, podemos reciclar praticamente tudo que consumimos, mas muito se perde durante o processo quando o material a ser reciclado é contaminado com outros tipos de resíduos, fazendo com que o ciclo de reciclagem desse produto seja diminuído. Muitas pessoas não sabem, mas ao misturar uma garrafa PET de bebida com resíduo orgânico esse material é contaminado. Sendo assim, ele nunca mais poderá ser usado como embalagem de nenhum produto do gênero alimentício, restando apenas a transformação em outro material de menor valor agregado, como vasos de plantas, bancos, entre outros. 

Para conseguir reciclar algum material quando a coleta é feita misturada, é preciso montar uma central de triagem mecânica, que irá separar de maneira pouco eficiente, mais custosa e irá retirar apenas materiais contaminados com maior valor agregado, fazendo com que muito resíduo acabe indo para aterros. Além da separação, é importante garantir a contratação de uma empresa licenciada que forneça rastreabilidade do lixo e garanta que todo material seja levado para o local adequado.

É de extrema importância reforçar nas escolas, nos espaços coorporativos, entre amigos e familiares, o máximo de informação possível sobre educação ambiental. Se cada um de nós fizer um pouco, conseguiremos juntos transformar o cenário mundial.

Guilherme Almeida, CEO do Grupo Urbam

* Guilherme Almeida é CEO do Grupo Urbam, líder no setor de coleta de resíduos do Rio e Grande Rio de Janeiro.

** Artigo pulicado na edição 14 da Revista da Reputação, abril / maio de 2023.